Começou pelas mãos de meu pai, eterno companheiro de alma. Maravilhada,
olhava para ele chegando em casa, voando porta adentro com um grande, pesado e
lustroso pacote nos braços, que devido ao peso fazia-o encurvar-se com uma
expressão na face de esforço excessivo, mas nos lábios e nos olhos aquela
expressão tão conhecida de menino que aprontou, satisfeito da vida.
Acredito, copia perfeita da sua alma, que meus sentidos logo captaram a
promessa de algo muito bom...
Entregou-me o pacote. Com sofreguidão, não teria outro termo pois sem
agüentar sua ansiedade, que aquela altura também era minha, ajudava a desfazer,
na verdade a destruir o embrulho.
Maravilhada, contemplava volumes coloridos, lindos, extremamente
cativantes para mim, muitos. E contava: 1, 2, 3, 4,... A coleção completa,
completa de Monteiro Lobato!
Meu mundo mudou e o meu hábito da leitura começou.
E foi de
fato algo muito mágico. Comecei a ler, ler, entrar nessa fantasia imaginando,
criando imagens, cenários, lugares, as pessoas. Narizinho? Ora, Narizinho
era... Eu era Narizinho! Nunca mais meu mundo foi igual! Sonho puro. Naquela
época, até agora, até sempre!
Pego livros como quem vislumbra novas
conquistas, conhecimentos. Os pensamentos correm soltos. Percorro as páginas
com os olhos e a alma.
Creio que o hábito de leitura moldou minha vida, em todos os segmentos.
Sou Arquiteta, Interior Designer, viajada, amante das artes -algumas até arrisco, dos livros,
casada, mãe e escritora. Mas para cada uma dessas partes de mim, sou uma
leitora.
Seguindo este legado, que não abandono senão me perco, tentei passá-lo
para minha filha – meu bem maior. Desde pequenina, ainda bebê trazia-lhe livros
daqueles de banho, coloridos, de plástico. Encantava-a e me encantava. E fui
seguindo essa linha, etapa por etapa de sua vida. Passando, claro, pela coleção
de Monteiro Lobato, da qual não me desfaço Marco da minha vida.
Hoje, ela tem preferência por romances ( eu também tinha na idade dela e
ainda tenho ), livros de arte e de arquitetura ( outro legado? ). Escreve muito
bem, é poliglota, fala seis idiomas e navega no computador com maestria. E eu,
que nasci em uma época sem computadores e celulares aventuro-me nos
“mistérios”dessa máquina, onde meus sites preferidos são os da minha profissão,
os de arte mas principalmente os de livros, os de clubes de livros, os de citações, os de poesia, os de escritores e afins. Mas
nada, nada se compara com a maravilha que é pegar um livro em minhas mãos,
abri-lo, sentir seu cheiro, da ação puramente sensorial de virar uma página.
Mas pelo amor ao hábito da leitura – maior instrumento de educação não
há, tento passar até pelo computador essa paixão, divulgando, comentando. A
quem interessar possa...
2 comentários:
Que belo presente seu pai te deu. Com certeza, se cada pai presenteasse os filhos com livros e incentivasse aleitura o Brasil com certeza seria bem diferente do que é hoje.
Já dizia alguém que "uma nação se constroem com livros...".
Parabéns pelo excelente blog
Bj
Belíssima história... certas coisas marcam a ferro e fogo na alma...
Postar um comentário